Os alunos da Escola Municipal Delcídio do Amaral, no bairro Universitário, colocaram em prática os conceitos que aprenderam no estudo da Política e do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Na última semana, os estudantes foram às urnas para a escolha do presidente da escola.
“A princípio, o projeto tinha como objetivo estudar, com os alunos do período matutino, o Estatuto da Criança e do Adolescente. Realizamos o estudo do estatuto, houve debates, palestras, até que chegamos à questão da cidadania, dos direitos e deveres. Associamos este tema com o período que o país vive, de eleições, e resolvemos realizar uma eleição. É um ótimo exercício para o estudo da legislação”, explicou a este Diário a pedagoga Noélia Virginia da Silva, coordenadora da iniciativa.
A eleição escolar promoveu a votação no dia 08 de outubro. O processo envolveu estudantes dos dois turnos – matutino e vespertino – totalizando mais de 700 alunos. Os pais também participaram da escolha. “Para realizarmos a eleição, passamos em todas as salas, do primeiro ao quinto ano, explicando o processo das candidaturas. Tentamos criar da forma mais realista possível o cenário das eleições. Deixamos abertas as inscrições e tivemos um total de oito candidatos que trabalharam cerca de um mês em suas candidaturas. Acreditamos que teremos cerca de 800 votantes entre alunos, pais e comunidade, é um grande exercício de democracia”, frisou a coordenadora.
O resultado será anunciado na segunda-feira, 18 de outubro e o vencedor será responsável por discutir as principais questões de melhoria na escola e ficará no cargo até o fim deste ano. “Estamos amadurecendo a ideia de em 2011 realizarmos uma nova eleição, mas desta vez um colegiado mirim, com prefeito e vereadores”, antecipou a pedagoga.
Âmbito Social
O projeto de estudo do ECA, que evoluiu para a “Votação na escola”, irá concorrer este ano ao prêmio “Professor por Excelência”, promovido pela Secretaria Executiva de Educação. O prêmio visa estimular os professores a realizarem projetos que englobem além do aprendizado pedagógico, o aprendizado social. “Conseguimos um excelente resultado. As crianças debateram questões de ética, como compra de votos, boca de urna e questões sobre direitos e deveres dos cidadãos. O momento nos ajudou a explicarmos sobre as eleições; o que cada cargo faz e por isso, pela dimensão e pelo peso de valores sociais é que acreditamos que o projeto mereceu ser inscrito no programa Professor por Excelência”, finalizou Noélia.
Realidade escolar
O mês de setembro foi de campanha intensa na escola. As crianças-candidatas criaram seus slogans, apresentaram as propostas, que deveriam ser baseadas em melhorias para a escola. Foi possível perceber que os estudantes estão atentos à realidade escolar e às necessidades que os cercam.
O pequeno Kalil destacou em sua campanha uma questão que é de extrema preocupação para a escola Delcídio do Amaral: a falta de estacionamento para veículos e de um sistema de sinalização que proteja os alunos ao entrarem e saírem da escola. “Eu propus que se eleito, iria investir na melhoria da segurança de meus colegas e professores. A escola fica numa região difícil, pois não temos calçadas para estacionamento de carros, o que torna a entrada e saída um grande perigo. Os carros dividem espaço com os ciclistas, os pedestres e é muito difícil. Outra proposta que pensei é pedir à Agência que cuida do trânsito da cidade (Agetrat), um guarda para nos auxiliar na entrada e saída, pois apesar do “quebra-molas”, os motoristas não respeitam e passam em alta velocidade, o que pode ser fatal para uma de meus colegas”, disse confiante em seu discurso, Kalil da Cunha Mendonça, 10 anos.
Ao longo do período eleitoral, os oito candidatos gravaram vídeos, colocaram suas propostas à disposição de toda a comunidade e receberam uma grande ajuda: a familiar. “Minha mãe me ajudou a pensar no que a escola necessitava e assim consegui montar ideias para apresentar. Há pouco menos de dois meses estudo aqui, vim de outra cidade, mas consegui ver que uma das grandes dificuldades é a questão da quadra. Não temos uma quadra esportiva e minha principal proposta é conseguir recursos para construção de uma quadra”, disse a candidata à presidência escolar, Ana Luísa Rezende Jucelino, 09 anos.
Durante a votação, este Diário conferiu que os pais também se engajaram na “brincadeira de presidente”. “Gostei muito da proposta de ensinar as questões políticas do país através de um projeto, por isso fiz questão de vir votar.Minha filha simplesmente chegou em casa e me disse que era candidata a presidente da escola. Foi uma grande surpresa pois estamos na cidade há pouco tempo e vê-la aprendendo um assunto tão importante desta forma, foi satisfatório. Mais satisfatório ainda foi perceber que seu processo de adaptação estava indo muito bem. A Ana sempre foi uma criança comunicativa e creio que ela conseguiu transmitir suas propostas. Em casa, conversamos sobre vários temas a serem propostos e vejo o projeto com excelentes resultados. Minha filha aprendeu questões democráticas e se adaptou de uma forma excelente na nova escola”, disse a mãe de Ana Luísa, Cláudia Rabelo Rezende Jucelino.
Por: Camila Cavalcante em 16 de Outubro de 2010
Fonte: Diário Corumbaense (www.diarionline.com.br).
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